segunda-feira, 14 de setembro de 2015

De São Paulo à Santiago com a Chile Bus - parte III





Mais uma madrugada viajando, assistindo a filmes em espanhol.
Pela manhã pude finalmente ver com  clareza as estonteantes paisagens argentinas. E era tudo tão diferente do nosso Brasil. As cores, as árvores. Fiquei realmente encantada.





Não me lembro à que horas vi o Aconcágua pela primeira vez. Completamente nevado. Cravado nos imensos paredões que compunham a cordilheira dos Andes.
O Monte Aconcágua, com 6.960,8 metros de altitude, é simultaneamente o ponto mais alto da América e de todo o Hemisfério Sul do planeta e também o mais alto fora da Ásia.
Imaginem o tamanho da minha emoção ao vê-lo, mesmo que de longe. Foi um momento de silêncio, sem respirar, onde chorei diante da grandiosidade do mundo. Senti medo e respeito.




O ônibus rodava interminavelmente pela estrada e a Cordilheira permanecia sempre distante. Notei que uma grande parte dela permanecia sem neve, o que me trouxe  alívio (provavelmente a cruzaríamos sem grandes problemas), mas também senti muita tristeza (talvez eu não conseguisse ver a tão sonhada neve, motivo principal que me levava primeiramente à Santiago).
De repente,  o rodomoço Juan entrou na nossa cabine e nos informou que estávamos bem adiantados e que se fizéssemos poucas paradas, chegaríamos à Santiago antes do cair da noite ( o que era uma ótima idéia para mim e para o Claudio, pois estávamos chegando pela primeira vez  sozinhos à uma cidade estrangeira e não queríamos chegar tarde, já que ainda nem sabíamos qual transporte nos levaria até nosso apartamento).
Todos no ônibus concordaram e fizemos apenas mais uma parada rápida para comer algo com mais sustância.



Seguimos viagem em direção à Cordilheira dos Andes.



De São Paulo à Santiago com a Chile Bus - PARTE II



Nossas primeiras horas no ônibus da Chile Bus foram todas rumando ao sul do Brasil. Filmes sanguinários em espanhol (ao gosto do rodomoço Juan) passavam um à um na TV. 

Na noite do dia 05/07 chegamos à Curitiba, onde paramos em uma importante rede de restaurantes à beira da estrada para jantar, comprar coisas, tomar um banho. Eu e o Claudio até saímos dispostos à tomar um banho, mas a fila para usar o banheiro estava enorme, então desistimos e fomos comer.

Viajamos toda a madrugada e depois passamos por algumas cidades em Santa Catarina que reconhecemos pela silhueta dos edifícios, como Balneário Camboriú e Florianópolis (ponte Hercílio Luz). 

Antes de amanhecer já havíamos cruzado outro estado: estávamos em alguma cidade do Rio Grande do Sul. Outra parada.

Lembro que nunca havia sentido tanto frio na vida. Um frio cortante. E o banho novamente ficou fora dos nossos planos. Compramos mais comida e bebidas quentes.

Dormir... assistir à filmes que não entendíamos... paisagens no Brasil... dormir, essa era a nossa rotina.

O Brasil é realmente gigante. Pensei que talvez nunca sairíamos dele, mas na hora do almoço, chegamos à nossa última cidade brasileira: Uruguaiana, no Rio Grande do Sul.

Havia um restaurante buffet muito agradável onde pudemos parar para almoçar e finalmente nos banhar (precisávamos). 

O banho veio primeiro e no banheiro pude fazer amizade com algumas senhoras que estavam em nosso ônibus. O Claudio também tomou um banho.
Aproveitamos para recarregar os celulares e comer o quanto pudemos por R$ 16,00 cada.

Voltamos para o ônibus e prosseguimos viagem.

Nossa próxima parada seria na aduana brasileira, já na divisa com a Argentina.


Descemos do ônibus totalmente desorientados e sem saber o que devíamos fazer, para onde ir, então apenas seguimos o fluxo das pessoas de nosso ônibus e formamos uma fila no interior do edifício. Aquela era a primeira vez que cruzaríamos uma fronteira, com todos os seus procedimentos, apresentação de documentos, etc...

Lembro que fiquei muito apreensiva pois minha foto do passaporte era recente, porém a do RG completamente antiga e ninguém poderia assegurar que era eu na foto. Então... que documento eles exigiriam de mim? Por sorte, como estava com o passaporte,  este facilitava todos os processos e só esse foi pedido. UFFFAAA. Passamos.

Um tempo depois, outra via sacra. Fila. Agora aduana Argentina. Não lembro em que momento o Juan nos entregou alguns formulários que devíamos preencher ao entregar nas aduanas estrangeiras, entregar um, pegar uma cópia e guardar até a saída do país argentino e entrada no Chile (tarjetas de imigración). GUARDE ESSA INFORMAÇÃO: PASSAMOS O MAIOR PERRENGUE POR CAUSA DESSES MALDITOS PAPÉIS.

Seguimos viagem. Paradae somente noturna, já em um posto de gasolina, em alguma cidade argentina à beira da estrada.
Alí sim, mais uma vez me convenci que ainda não havia experimentado o maior frio da minha vida e tivemos a primeira visão do que seria converter o nosso real em moeda estrangeira. 









De São Paulo à Santiago com a Chile Bus - PARTE I

Eu havia comprado a passagem com cerca de dois meses de antecedência.

Apesar da viagem ter sido pensada quase um ano antes, faltou coragem.

Decidi comprar as passagens efetivamente quando estivesse perto da viagem e não desse mais para voltar atrás. Afinal, seriam R$ 800, 00 jogados fora, caso a gente desistisse.

A escolha da empresa de ônibus que nos levaria através dos Andes foi baseada em comentários retirados da internet. Ainda assim, havia muito pouca informação à respeito do trajeto, do ônibus e dos riscos.

Duas empresas faziam o trajeto entre São Paulo e Santiago do Chile: Pluma Internacional e Chile Bus. Dessas,a primeira empresa era bem mais barata (cada passagem custava cerca de R$ 250,00 na época da pesquisa no site), porém li alguns comentários negativos e acabei optando (quase às cegas) pela Chile Bus.

A ChileBus  não dispunha de site e tive que fazer ligações para colher as primeiras informações sobre a viagem e confirmar as datas de saída disponíveis.
Minha maior preocupação era o tempo, pois, segundo alguns blogs, caso houvesse incidência de nevascas, a estrada que separava a Argentina do Chile (Paso de los Libertadores) poderia ficar fechada, inclusive por vários dias seguidos, o que atrapalharia toda a logística da viagem, pois as únicas coisas que reservei além da passagem de volta (em avião, saindo do Acre para São Paulo), foram os hostels, pois tivemos medo de ficar sem local para dormirmos por ser alta temporada.

Além do mais, sou casada, e uma das poucas exigências que meu marido fez foi que tivéssemos um quarto somente para nós dois.

E o risco de incidência de nevasca era imenso: íamos em pleno inverno, na alta temporada de esqui.

OU SEJA: Nada podia sair errado. E para isso, eu precisava de muita sorte.

Conseguimos comprar as poltronas da frente. O ônibus era convencional (infelizmente, porque a viagem era bem longa, cerca de 54 horas).
Havia TV, ar condicionado, café da manhã e da tarde, além de paradas para almoço e banho ao longo da estrada.
Escolhi as poltronas da esquerda, pois, segundo os poucos relatos que li, a paisagem era mais deslumbrante desse lado da janela.

O dia do embarque ficou para 05/07/15 e nos custou R$ 400,00 cada passagem, saindo do terminal rodoviário do Tietê, em São Paulo.

No dia citado, saímos de nossa cidade no litoral rumo à capital, cerca de 1h30 de distância. Chegamos com cerca de duas horas de antecedência e fomos até o guichê da empresa para fazer nosso "check in" (recomendação da própria Chile Bus).

Haviam muitas pessoas fazendo o mesmo e alguns mochileiros, mas a maioria dos viajantes era de senhores e senhoras chilenas retornando à seu país e muitos, MAS MUITOS haitianos que faziam o trajeto em busca de uma nova chance de recomeçar.

Fomos orientados à nos dirigir à nossa plataforma e lá ficamos esperando. Às 14h30, pontualmente, começou nosso embarque, rumo ao desconhecido.

O ônibus era relativamente novo e havia tudo o que fora prometido, inclusive o rodomoço (um atendente de bordo), porém os assentos não eram de todo confortáveis, mas tudo nos surpreendeu positivamente.

Quando realmente saímos do terminal rodoviário, o rodomoço, que se chamava Juan, começou à dar instruções sobre a viagem. Foi assustador descobrir na hora que nosso nível de espanhol, na prática era MUUUIIITTTOOO inferior ao que a gente pensava. E esse rapaz não falava português e nem falava devagar.
A instrução mais interessante foi: o banheiro era só para fazer o número 1... kkkkkkkkkk. Caso tivéssemos a necessidade de fazer o número 2, era só informá-lo, que ele avisaria o motorista e o ônibus iria fazer uma parada.
Ok.
Saímos.