Eu havia comprado a passagem com cerca de dois meses de antecedência.
Apesar da viagem ter sido pensada quase um ano antes, faltou coragem.
Decidi comprar as passagens efetivamente quando estivesse perto da viagem e não desse mais para voltar atrás. Afinal, seriam R$ 800, 00 jogados fora, caso a gente desistisse.
A escolha da empresa de ônibus que nos levaria através dos Andes foi baseada em comentários retirados da internet. Ainda assim, havia muito pouca informação à respeito do trajeto, do ônibus e dos riscos.
Duas empresas faziam o trajeto entre São Paulo e Santiago do Chile: Pluma Internacional e Chile Bus. Dessas,a primeira empresa era bem mais barata (cada passagem custava cerca de R$ 250,00 na época da pesquisa no site), porém li alguns comentários negativos e acabei optando (quase às cegas) pela Chile Bus.
A ChileBus não dispunha de site e tive que fazer ligações para colher as primeiras informações sobre a viagem e confirmar as datas de saída disponíveis.
Minha maior preocupação era o tempo, pois, segundo alguns blogs, caso houvesse incidência de nevascas, a estrada que separava a Argentina do Chile (Paso de los Libertadores) poderia ficar fechada, inclusive por vários dias seguidos, o que atrapalharia toda a logística da viagem, pois as únicas coisas que reservei além da passagem de volta (em avião, saindo do Acre para São Paulo), foram os hostels, pois tivemos medo de ficar sem local para dormirmos por ser alta temporada.
Além do mais, sou casada, e uma das poucas exigências que meu marido fez foi que tivéssemos um quarto somente para nós dois.
E o risco de incidência de nevasca era imenso: íamos em pleno inverno, na alta temporada de esqui.
OU SEJA: Nada podia sair errado. E para isso, eu precisava de muita sorte.
Conseguimos comprar as poltronas da frente. O ônibus era convencional (infelizmente, porque a viagem era bem longa, cerca de 54 horas).
Havia TV, ar condicionado, café da manhã e da tarde, além de paradas para almoço e banho ao longo da estrada.
Escolhi as poltronas da esquerda, pois, segundo os poucos relatos que li, a paisagem era mais deslumbrante desse lado da janela.
O dia do embarque ficou para 05/07/15 e nos custou R$ 400,00 cada passagem, saindo do terminal rodoviário do Tietê, em São Paulo.
No dia citado, saímos de nossa cidade no litoral rumo à capital, cerca de 1h30 de distância. Chegamos com cerca de duas horas de antecedência e fomos até o guichê da empresa para fazer nosso "check in" (recomendação da própria Chile Bus).
Haviam muitas pessoas fazendo o mesmo e alguns mochileiros, mas a maioria dos viajantes era de senhores e senhoras chilenas retornando à seu país e muitos, MAS MUITOS haitianos que faziam o trajeto em busca de uma nova chance de recomeçar.
Fomos orientados à nos dirigir à nossa plataforma e lá ficamos esperando. Às 14h30, pontualmente, começou nosso embarque, rumo ao desconhecido.
O ônibus era relativamente novo e havia tudo o que fora prometido, inclusive o rodomoço (um atendente de bordo), porém os assentos não eram de todo confortáveis, mas tudo nos surpreendeu positivamente.
Quando realmente saímos do terminal rodoviário, o rodomoço, que se chamava Juan, começou à dar instruções sobre a viagem. Foi assustador descobrir na hora que nosso nível de espanhol, na prática era MUUUIIITTTOOO inferior ao que a gente pensava. E esse rapaz não falava português e nem falava devagar.
A instrução mais interessante foi: o banheiro era só para fazer o número 1... kkkkkkkkkk. Caso tivéssemos a necessidade de fazer o número 2, era só informá-lo, que ele avisaria o motorista e o ônibus iria fazer uma parada.
Ok.
Saímos.